abril 27, 2005

Zita

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É NORMAL que se mude de opinião e, mais ainda, de partido. Mas há um núcleo central de princípios, mais marcado pela história de vida do que pela história política, que dificilmente muda: as posições morais e sobre os costumes. Se olharmos para homens vindos da esquerda, como Pacheco Pereira, ou vindos da direita, como Freitas do Amaral, notamos que transportam do seu passado muitas destas convicções.

Acontece, no entanto, a algumas pessoas, um autêntico terramoto identitário. Não deixa pedra sobre pedra. Há em Portugal uma geração que, vinda da esquerda, confundiu a sua formação pessoal com a luta contra a ditadura ou com o activismo revolucionário do PREC. Não houve, na sua juventude, qualquer diferença entre vida privada e vida partidária.

Tendo entrado para o PCP com quinze anos, Zita Seabra entregou-lhe a sua vida. Ao sair, abandonou tudo: amigos, hábitos, profissão. Por isso, percebe-se que esteja irreconhecível. Mas vê-la como porta-voz dos opositores à descriminalização do aborto, reescrevendo as posições que teve no passado, ultrapassa tudo o que se pode esperar de alguém. Zita Seabra até pode ser contra a legalização do aborto. Mas aceitar ser usada, no Parlamento, como troféu, é diminuir-se a si e à sua história. Quem aceita estar sempre a regressar ao seu passado para o renegar já só se renega a si mesmo.

Nada disto é novo. Há anos que esta protegida de Pedro Santana Lopes se degrada à frente dos nossos olhos. Zita Seabra é uma nova Cândida Ventura, um novo Chico da CUF. Uma ex-comunista que nunca conseguiu ser mais do que uma ex-comunista. Uma medalha de latão que ninguém quer levar para casa. Uma história triste.
-- Daniel Oliveira