julho 30, 2004

Geração 2000



por MIGUEL SOUSA TAVARES

Bill Clinton foi saudado em delírio pelos congressistas da Convenção Democrata de Boston. E, todavia, não disse nada de novo: limitou-se a recordar o que tinham sido as suas causas na Presidência, o que são as causas dos democratas americanos e o que faz a diferença entre isso e a América sombria que Bush representa. Uma América mais forte e justa internamente e respeitada externamente. Clinton transformou em "superavit" os crónicos défices herdados da gestão republicana, porque lhe pareceu fundamentalmente injusto que as gerações futuras viessem a pagar pela gestão leviana da actual. Bateu-se pela democratização do ensino, desde a escola primária, porque sabia que aí começavam todas as descriminações (teria Bush algum dia chegado à Presidência se o pai não lhe tivesse positivamente comprado um curso universitário?). Bateu-se pelo acesso de todos, independentemente do dinheiro e em condições decentes, à assistência médica, no que foi derrotado pelo Congresso de maioria republicana. Protegeu o ambiente, não tanto como havia prometido, mas apenas tanto quanto os 'lobbies' da indústria lhe permitiram, e assinou o Protocolo de Quioto. Tendo estudado em Inglaterra e viajado pela Europa, soube compreender a importância de os Estados Unidos exercerem uma liderança partilhada e darem atenção aos outros, em lugar de lhes imporem arrogantemente as suas ideias feitas sobre o mundo e os valores morais que o devem guiar. Por isso, assinou com a Rússia uma convenção de limitação dos mísseis balísticos, decretou uma moratória sem prazo às experiências nucleares e submeteu os Estados Unidos à jurisdição do Tribunal Penal Internacional (TPI), em pé de igualdade com todas as nações do mundo, para que uma mesma lei e uma mesma legitimidade possam punir a barbárie, onde quer e como quer que ela aconteça. [continua]