setembro 17, 2004

Tasso acusa governo de stalinista



BRASÍLIA. A informação de que a família Jereissati teria sido alvo de investigações da CPI do Banestado abriu ontem nova crise entre o PT e o PSDB. O presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), voltou suas baterias mais uma vez contra o relator da comissão, deputado José Mentor (PT-SP), e acusou o PT de fazer chantagem contra seus adversários e empresários usando dados sigilosos colhidos ao longo das investigações da CPI. Mesmo admitindo ser difícil provar essas acusações, o senador afirmou que o PT teria se valido desse banco de dados para tentar influenciar no resultado da eleição para a presidência da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), na qual o candidato preferido do Palácio do Planalto, Paulo Skaf, acabou saindo vitorioso.

— Acho uma indignidade a forma como o PT está fazendo política. Eles botaram na cabeça que o senador Tasso Jereissati é candidato à Presidência e agora tentam macular a sua imagem. Eles ultrapassaram todos os limites possíveis e imagináveis. Não é fácil provar a autoria disso, mas basta ver a quem interessa isso. O Brasil está sob chantagem explícita. Tive informações de que eles também teriam usado esse banco de dados para influenciar na eleição da Fiesp — disparou Antero Paes de Barros.

“Mentor fez um banco de dados para extorquir”

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) foi mais cauteloso nas declarações, embora também acuse Mentor e pelo menos parte do governo petista de tentar chantagear seus opositores.

— É uma indecência o que está acontecendo na CPI do Banestado. O deputado Mentor fez um banco de dados paralelo para extorquir. O PT parece ter dois governos: um moderno, democrata, que tem projeto social e respeita as liberdades individuais, e outro stalinista, que quer acabar com a oposição, persegue adversários e faz chantagem. Só não vou dizer quem faz parte de qual governo — afirmou Tasso, negando-se a comentar o vazamento de informações da CPI que mostrariam que familiares distantes seus teriam movimentado nos últimos seis anos quase US$ 500 mil, segundo reportagem de ontem do jornal “O Estado de S.Paulo”.

A assessoria de imprensa de Skaf informou que ele considera absurda a afirmação de Paes de Barros e que não acredita que o senador tenha dito isso seriamente.

O presidente do Senado, José Sarney, poderá anunciar hoje a realização de uma reunião extraordinária da Mesa para analisar as denúncias de vazamento e uso indevido de dados sigilosos da CPI. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, também disse que poderá investigar se houve vazamento e uso indevido dos dados da CPI:

— Se ficar comprovado que algum deputado ou senador fez isso, será punido, porque é crime — disse João Paulo.

Mentor defende-se das acusações de Paes de Barros e de Tasso:

— Se o senador Antero ou alguém acha que houve alguma influência sobre a eleição da Fiesp, deve apresentar provas. Quanto ao senador Tasso, só posso dizer que sempre o vi como um político experiente e equilibrado. Na verdade, acho que esse vazamento interessa apenas aos tucanos que discordavam da postura que o senador Tasso vinha tendo, de negociar com o governo os projetos de interesse do país.

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), também cobrou de Paes de Barros provas para sustentar suas acusações. Ela fez questão de lembrar ainda que o presidente da CPI atira justamente no momento em que o seu partido em Mato Grosso está sob investigação. Ontem o escritório do presidente estadual do PSDB, o ex-governador Dante de Oliveira, foi vasculhado pela Polícia Federal por determinação da Justiça. Operação que, segundo o PSDB, teve conotação política, pois o juiz que autorizou a busca “é um ex-militante do PT”, segundo nota do PSDB nacional.

Tasso confirmou que havia sido informado há algum tempo que parentes indiretos estavam sendo investigados pela CPI e atribuiu o vazamento das informações como o troco por ele ter criticado duramente o projeto das Parcerias Público-Privadas defendido pelo governo. Na sua avaliação, este é mais um ingrediente que aumenta o clima de mal-estar entre o PT e o PSDB.


Adriana Vasconcelos / O Globo