março 06, 2006

Extrema direita e separatismos

Uma das extremas mais fortes da América Latina, é a extrema direita venezuelana. É um petit detail do qual não se fala muito, pelo menos com propriedade, porque o governo do presidente Hugo Chávez neste sentido é muito mais fantasioso do que parece. Mas há coisas que dizer sobre isto. Não é previsivel que exista uma extrema direita separatista como o governo venezuelano argumenta. O que sim existe é uma extrema-direita com um poder muito forte na Venezuela e na América Latina da qual ninguém quer falar. Nem sequer os democrata-cristão europeus, porque a conhecem demasiado bem.

Durante a década de 1980 a América Central foi sacudida por uma guerra civil no El Salvador que afectou toda a região. Nessa época nem a esquerda (Moscovo, não Havana) nem a direita – neste caso leia-se a administraçao de Ronald Reagan – foram ao fundo da questão por razões diferentes. À esquerda, porque não lhe interessava. Como se viu pela revelação do segundo volume do relatório Mitrokhin, Moscovo sempre viu a guerra civil salvadorenha como uma espécie de porta-aviões anti americano; enquanto que a Washington lhe interessava mais manter a cortina de fumo da “expansão comunista” e esperava ter, apenas como aliada de circunstancia, a extrema-direita da região. Sempre de uma forma “light”, para controlar os acontecimentos, já que os americanos nunca gostaram de deixar isso em mãos alheias.

Mas, a realidade é que foi a extrema-direita venezuelana, com a democracia-Cristã à frente, a grande financiadora da ditadura militar salvadoreña, principalmente através da mão dum ex ministro dos negócios estrangeiros venezuelano que acabou por morrer misteriosamente num desastre de avião com toda a familia, depois que se dedicou a percorrer a região a recrutar “voluntários” e dinheiro para armas, num momento em que o governo dos Estados Unidos ainda não tinha investido em força no conflico.

Básicamente, os “ultra” venezuelanos são uma trincheira da Opus Dei na América do Sul, do mesmo modo que El Salvador ainda o é na América Central. No entanto, a esquerda latinoamericana, que tem essa mania sectária de se guiar pelo simplismo do preto e o branco – dos Estados Unidos e nós – acaba por não reparar nos meios tons, nos cinzentos meios claros, meio escuros. Resultado, a leitura do ambiente acaba por obviar (esquecer?) uma data de promenores.

E acaba por cair em leituras simplistas, como a ameaça separatista – denunciada sem mostrar provas; não quer dizer que não hajam – virada para um sector que não é inocente, mas também não é estupido. Senão não teria sobrevivido. Não nos enganemos: a extrema-direita latinoamericana é profundamente criminosa, mas sabe sobreviver e sabe, acima de tudo, que a sua sobrevivencia não passa pelo separatismo. Quanto muito, passa pelo assassinato, mas não pela fragmentação de um país. Isso só pode estar na mentalidade de quem ainda acredita em países divididos por muros comandados por ditaduras que gostam de se chamar formalmente democráticas. É o caso da república popular e democrática da Coreia, como foi o da república democrática alemã. Querem enfrentar os ultras? Procurem uma estratégia mais inteligente. Eu sei que é dificil quando não há imaginação. [RF]