julho 21, 2004

"Anybody but Bush"

NOVA YORK. A palavra de ordem entre eles é “Anybody but Bush” (“Qualquer um menos Bush”), ou ABB para os íntimos. Isto não significa que o país já tenha decidido votar contra a reeleição de George W Bush. A disputa deverá ser acirradíssima. Mas um pequeno, poderoso e barulhento grupo da elite americana — os artistas — resolveu entrar para valer na campanha. Consagrados ou não, eles estão majoritariamente contra Bush. Os ricos e famosos de Hollywood contribuíram com US$ 15 milhões para o candidato democrata, John Kerry, arrecadados em duas noites de shows em Nova York e Los Angeles. Os ainda não ricos doam quadros para leilões, fazem shows em bares, organizam leituras de seus livros ou simplesmente agitam e propagam opiniões contra Bush.



O elenco de celebridades que está na briga para eleger Kerry inclui Meryl Streep, Sarah Jessica-Parker, Whoopy Goldberg, Jessica Lange, Ben Affleck, Robert de Niro, Paul Newman, Barbra Streisand, Bon Jovi e o presidente da Miramax, Harvey Weinstein. Alguns estréiam na política, outros são fiéis eleitores democratas. Às vezes o apoio das estrelas cria constrangimentos, pois seus padrões de comportamento nem sempre são os mesmos do mundo dos normais. Num show há duas semanas em Nova York, alguns artistas exageraram nas cores com que pintaram o presidente. Jessica Lange o chamou de ditador do Texas e Whoopy Goldberg fez trocadilhos de cunho sexual, dando munição à campanha adversária. Declarando-se enojado com o espetáculo de ódio dos artistas, Bush tem puxado vaias para Kerry em comícios no interior ao citar o adversário dizendo a celebridades que elas são o coração da América.

— Está na moda odiar Bush — afirma Dick Peck, escritor que ajudou a organizar uma das sessões de leitura da temporada.



O mundo da moda também anda aderindo à campanha. Pelo menos Marc Jacobs já vestiu a camisa. Em sua loja no Village, as vitrines estão decoradas com cartazes e camisetas com slogans contra Bush. O estilista viu suas tee shirts virarem sucesso: num só fim de semana, foram vendidas 950. Arquitetos e designers gráficos promovem jantares elegantes para arrecadar fundos. Músicos underground e artistas alternativos normalmente só preocupados com seu trabalho também estão em intensa atividade política. Os mais jovens reativaram a Downtown for Democracy, associação que até o ano passado não passava de uma sala abandonada no Brooklyn e agora tem como objetivo arrecadar US$ 1 milhão até a eleição. Os sócios são jovens com menos de 30 anos, alguns já saudados pela crítica como talentos artísticos mas cujo interesse por política só foi despertado nos protestos contra a guerra do Iraque.

— Bush fez essas pessoas despertarem. Elas costumavam nem votar. Tudo isso é importante numa eleição em que a diferença entre o ganhador e o perdedor pode ficar em poucos milhares de votos — comenta um dos militantes da MoveOn, organização fundada por John Podesta, ex-chefe da campanha de Bill Clinton e que recebeu uma multimilionária doação do megaespeculador George Soros. [O Globo]