E Portugal Segue Dentro de Momentos
por Miguel Sousa Tavares
Nestas coisas do amor à pátria tenho uma noção um bocado antiquada e simplista: acho que o amor à pátria consiste em estar disposto a servi-la em caso de necessidade sem perguntar primeiro "quanto?", em declarar tudo o que se ganha ao fisco, em votar nas eleições, nem que seja em branco, em defender, por palavras e actos concretos, o seu património histórico, natural e cultural. A onda de histeria patriótica que invadiu o país a propósito do Euro deixou-me meio perplexo, como no dia 26 de Abril de 1974, ao descobrir, igualmente nas ruas, que, afinal, todo o país era composto de resistentes à ditadura. O patriotismo das emoções e das multidões é certamente mais fácil do que o patriotismo dos deveres serenamente cumpridos. Até porque o primeiro dura o espaço de um acontecimento e o segundo a vida toda.
Cavalgando a onda de emoção patriótica, o Presidente Sampaio, lágrima ao canto do olho, condecorou como heróis nacionais e símbolo do tal "patriotismo moderno" que ele propõe os jogadores e técnicos da selecção nacional, que, jogando com todas as vantagens do seu lado, cometeram a proeza de ganhar três jogos à tangente, empatar um e perder dois. E muita gente que inesperadamente se deixou contaminar por essa onda do patriotismo das bandeirinhas acordou passados uns dias para o pesadelo real da moscambilha política cozinhada por Barroso e Santana e consentida por Sampaio. Portugal regressou assim, de um só golpe, à sua triste realidade. [continua]
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