BLOGUES / Constança Cunha e Sá
Vou directo ao asunto para que não hajam dúvidas. A Constança Cunha e Sá é uma das minhas jornalistas favoritas e foi minha directora no Independente (sim, o Independente também tem jornalistas de esquerda). Acabo de descobrir que tem um blogue, onde fui buscar este texto. É importante ler a Constança (e vê-la na TVI), mas mais importante ainda, é ter em conta como os seus comentarios são de um profissionalismo à prova de bala. Como devem de ser! [RF]
Falta de jeito?
Nunca aderi à tese (muito difundida por aí) que dá como adquirida a “falta de jeito” de Cavaco Silva para suportar a exposição a que obriga qualquer campanha. Convém perceber que “a falta de jeito” é um dos trunfos do candidato. É sinónimo de “honestidade” e de “competência”. Revela um profundo desprezo pela “retórica” dos que foram ultrapassados pela história. E aponta para uma “nova forma” de fazer política que dispensa explicitamente a política (duas pessoas sérias com a mesma informação chegam naturalmente à mesma conclusão). Os apoiantes de Cavaco Silva sabem que ele não tem uma boa relação com as câmaras. Não esperam que ele esmague os seus adversários num debate. Nem esperam que ele os brinde com as subtilezas da ideologia. Esperam apenas que ele, em Belém, seja igual a si próprio e que introduza novas regras no sistema político e ponha fim a certos arranjos partidários. E não esperam pouco, diga-se de passagem!
A falta de jeito, diz-se, nota-se também no incómodo do candidato, na forma como foge às perguntas e se atrapalha com os imprevistos que fazem parte de qualquer campanha. O "esgar", que Santana Lopes provocou e que animou algumas hostes, é apenas uma caricatura que revela a rigidez do discurso e as limitações de uma imagem. Com Cavaco Silva não há estados de alma, nem improvisos de última hora. Há um programa que tem que ser rigorosamente cumprido. E que, diga-se o que se disser, com ou sem "agenda escondida", está a ser rigorosamente cumprido. Quem o acompanhou, no passado, sabe que Cavaco Silva não deixa nada ao acaso. E que, ao contrário do que dizem, é um profissional em campanhas. A pretensa "desenvoltura" de que agora dá mostras só espanta quem não tem memória e não se lembra da "desenvoltura" exibida nos bons tempos do cavaquismo. Vamos ver o que nos espera esta semana. Sabendo, à partida, que nos espera a apoteose final.
Constança Cunha e Sá
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