agosto 20, 2004

Olga, um filme de encher os olhos



Um dos lançamentos mais esperados do ano no Brasil, “Olga” é um filme de encher os olhos. De números — sua produção envolveu uma equipe de 250 pessoas e um investimento de R$ 8,8 milhões, o maior do cinema nacional — e, principalmente, de lágrimas. Entre o público e a crítica, o diretor Jayme Monjardim não hesitou em agradar ao primeiro. Planos fechados, trilha sonora forte, ambientes cinzentos, história carregada no drama. O que os críticos têm considerado pontos desfavoráveis é justamente o que faz os espectadores deixarem as salas aos prantos, como na pré-estréia carioca, no New York City Center. Produzido por Rita Buzzar, “Olga” estréia hoje em todo o país com 263 cópias e uma pergunta: Jayme Monjardim faz novela com jeito de cinema ou cinema com jeito de novela?

— Sou apenas um contador de histórias — ele mesmo trata logo de responder. — E meu desafio é contá-las da melhor forma possível. Não quero ser lembrado como um sujeito que criou um novo estilo de cinema, que revolucionou a linguagem, mas como alguém que produziu trabalhos que tocaram o coração do público.

Marinheiro de primeira viagem, como faz questão de dizer, Jayme levou para o seu primeiro longa-metragem, inspirado no livro homônimo de Fernando Morais, parceiros antigos da TV. Da produtora e roteirista, Rita Buzzar, com quem trabalhou em “A história de Ana Raio e Zé Trovão” (na Rede Manchete), à diretora de arte, Tiza de Oliveira, sem falar, é claro, na atriz principal, Camila Morgado, revelação da minissérie “A casa das sete mulheres”.

“Olga” é um filme de estréia com verba e tratamento de superprodução — “Carandiru”, o segundo mais caro já feito no país, custou R$ 7 milhões. Do número de figurantes, que em algumas cenas superou a marca dos 800, passando por uma tela especial de dois mil metros quadrados, confeccionada com tecido de pára-quedas para filtrar a luz tropical de Bangu, onde as externas do campo de concentração foram filmadas, tudo é grandioso no filme. Com a comercialização, seu custo atingiu a cifra de R$ 12 milhões. Mas será esse o caminho do cinema nacional, o das superproduções?

— Essa pergunta é muito difícil de responder. Eu acredito que não. Acho que o país sempre se destaca quando fala da sua história, de suas raízes. O que precisamos é de bons roteiros, de boas histórias, do Brasil descobrindo a si mesmo — defende Jayme Monjardim.

Para o diretor, a criatividade é a palavra-chave. De olho em prêmios? Ele garante que ver o público assistindo ao filme, se emocionando com a história da mulher que deixou para trás uma vida confortável para lutar por um mundo melhor, e sofreu os horrores do nazismo, já faz o filme valer a pena.

— Se a história que eu conto servir para que aquilo nunca mais se repita, vou me sentir realizado. Sinceramente, não estou nem um pouco preocupado com a crítica ou com prêmios. Dei o melhor de mim em “Olga”. E o que tenho como meta é sempre o público. Quero que ele vá ao cinema, goste do filme, pense sobre ele. E que esse filme o faça sentir vontade de voltar mais uma vez e ver um outro filme. Se isso acontecer, o motivo de ele existir estará plenamente justificado — discursa.
[Maria Cristina Valente]

A celebridade da vez

Anita Leocádia Benário Prestes já nasceu celebridade. Nem tinha saído das fraldas e já motivava uma campanha mundial para impedir que fosse enviada a um orfanato nazista. Apesar (ou exatamente por causa) disso, a filha de Olga Benário e Luís Carlos Prestes faz de tudo para ficar longe dos holofotes. Tarefa cada vez mais difícil desde que “Olga” ganhou as telas.

No último sábado, logo depois de um debate sobre o filme com professores de história no Espaço Unibanco, Anita — que tem doutorado na disciplina e é do corpo docente da UFRJ — era só afabilidade com os colegas de profissão. Bastou ser abordada pela repórter para mudar o semblante e responder, em tom seco e decepcionado:

— Ah, você é de jornal...

Foto? Não. Um artigo para a revista? Não. Uma ou duas perguntinhas? Tudo bem, mas só enquanto se encaminhava para a saída.

Tempo suficiente para descobrir que as turbulências não acabaram na infância.

— Fui presa e exilada pela ditadura militar. Como se não bastasse o sobrenome, em 64 eu já era da Juventude Comunista — lembra.

Militância que mantém, faz questão de apregoar (“Sou uma comunista internacionalista, como a minha mãe”) e se reflete na avaliação racional que faz da tragédia vivida por sua família:

— Milhões de famílias sofreram tanto quanto a gente. Há mães que viram seus filhos serem mortos em campos de concentração.

Quanto ao filme, Anita faz apenas um senão: o final.

— Olga era esperançosa. O fim não tem essa esperança.

Choro? Tristeza? Emoção?

— Vivemos tudo aquilo. Foi muito mais triste e pesado.
[Luciana Brum]